top of page

Casa Cultural

Logo_Transparencia.png
logo CCDA-semletras

Cuidar para não ter que intervir

O cuidado como estratégia para prevenção da violência


Em 28 de outubro de 2025, uma grande operação policial na cidade do Rio de Janeiro, nos complexos do Alemão e da Penha, mobilizou cerca de 2.500 agentes em combate direto às facções criminosas — cenário que revela o êxtase da repressão e, ao mesmo tempo, a fragilidade do modelo que prioriza intervenção somente após o conflito armado.


ree

Enquanto isso, os dados mais amplos do país ainda evidenciam um panorama de violência que permanece elevado, mesmo diante de algumas quedas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2023 houve uma redução de 27,7% nas mortes violentas intencionais (homicídios, feminicídios e mortes por intervenção policial) no Brasil.


Por outro lado, em 2023 foram registradas cerca de 46.328 mortes violentas intencionais — número que permanece alarmante. Outro dado importante: existe uma forte concentração territorial e socioeconômica da violência. Estima‑se que, ao melhorar em 0,1 o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH‑M) de um município, haveria uma redução de entre 7.560 e 12.834 homicídios anuais no Brasil.


Esses dados evidenciam que a violência não é apenas resultado de decisões individuais, mas de falhas estruturais: desigualdade, ausência de cuidado social, falta de oportunidades, fragilidade institucional e escassa presença do Estado em territórios vulneráveis.


A repressão — embora necessária em alguns momentos — tem limites claros: intervém quando o dano já se instalou, quando o conflito já se cristalizou. A ação policial nos casos de operações em favelas pode conter dinamicamente a escalada, mas dificilmente previne totalmente a reprodução de novos ciclos de violência. Já os esforços do terceiro setor atuam antes, no território, no cotidiano, no vínculo, no acolhimento, na formação de pessoas — e é aí que reside uma forma de “prevenção primária”.


Quando a Casa Cultural Dona Antônia abraça mulheres com oficinas de costura, quando promove atividades de lazer, cidadania e arte, quando gera renda para artesãs, ela está ampliando territórios de cuidado, promovendo pertencimento, autoestima, autonomia e abrindo janelas de futuro em contextos que poderiam se tornar terreno fértil para a violência.


A diferença entre os dois caminhos é clara:


  1. Operação repressiva: Entrar na favela, confrontar armas, neutralizar líderes, fechar favelas — a chamada “guerra” contra o crime organizado. O custo humano, financeiro, moral e institucional é altíssimo.

  2. Ação preventiva de cuidado: Estar presente no território, oferecer alternativas, fortalecer comunidades, promover cultura, formação e renda. O custo é menor e o retorno mais sustentável.


Na Casa Cultural, cada oficina não é apenas um curso — é uma estratégia de resiliência comunitária. É diminuir fatores de risco como o desemprego, a exclusão social, a invisibilidade. É criar fatores de proteção: laços afetivos, pertencimento, protagonismo, autoestima


Quando falamos de segurança e violência, precisamos mudar o eixo: de “como reagir à violência” para “como cuidar para que ela não aconteça”. A Casa Cultural Dona Antônia está nesse eixo de cuidado e transformação, e reafirma que o investimento em pessoas e comunidades é, também, investimento em segurança — com menos armas, menos barricadas, menos corpos ao chão.



Sérgio Martins

Músico, Advogado e CEO da Casa Cultural Dona Antônia


Comentários


bottom of page