Cestaria - a arte de fabricar materiais trançáveis, com bambu, cipó, taboa e fibras naturais, é uma arte manual tradicionalmente produzida por povos indígenas e agrícolas. Essa técnica permite a criação de cestos, balaios, peneiras, vasos, acessórios, utensílios domésticos, arranjos e muitas outras peças, sejam para decoração ou para a lida do dia a dia. Ela resiste em uma era altamente industrializada e tecnológica, mas de alguma forma, continua o trabalho de nos lembrar da nossa história, de dar forma à nossa criatividade com as nossas próprias mãos. E são nessas tramas que Carlos Martins se envolveu desde a infância, e se tornou um perpetuador da nossa cultura raiz e dos caminhos da arte que nos conduz ao que é naturalmente belo.
Carlos Martins é o segundo filho mais velho de Dona Maria Lima, a heroína que cedeu seu lar à Casa Cultural Dona Antônia, e criou seus 5 filhotes sola e corajosa. Ele também é co-fundador dessa mesma entidade, junto com os irmãos e irmãs. Carlinhos, ou “Toim” como a família o chama, foi integrado ao Salão do Encontro de Betim desde 89, primeiro cuidando das cabras, mas sempre de olho nas aulas de cestaria.
De todas as artes que acessou, a cestaria foi a que mais o encantou e em uma oportunidade ele, e seu irmão Teco Martins, Geraldo Magela e Anderson Luiz, foram os primeiros alunos do jovem mestre Francisco Donizeti de Paula, vindo de Oliveira MG, para ensinar no Salão do Encontro. Por alguns meses Carlos teve a experiência de aprender o ofício por meio da tradição oral e da prática, como é o costume de mestres de ofício em comunidades não tecnicistas. Ele aprendeu os segredos do tratamento do bambu, as formas e épocas corretas de colhê-lo e prepará-lo para o manuseio, e as principais bases para as tramas. Depois que o mestre deixou o projeto, Carlinhos continuou aprendendo com as alunos mais antigos e com as próprias experiências. Nessa época, o Salão já produzia muitas encomendas para fora e eram os alunos atendidos que auxiliavam na produção, então, a turma do mestre Donizeti continuou por conta própria tecendo as peças para venda. Desde então, é por meio dela que esse artesão vive, gera sua própria renda, e se realiza. Algum tempo depois Carlos fundou a Trama Nativa, uma iniciativa conectada com a natureza, fabricando as mais diversas peças dentro de uma ideia sustentável, que, além de valorizar e eternizar esse conhecimento passado de geração em geração, traz suas próprias pesquisas e amplia suas tramas originais através do desenvolvimento de novos trançados e novas peças.
Desde sempre ele leva seus conhecimentos e tramas para vários lugares, instituições e pessoas. Foi instrutor na extinta Fundação de Arte e Cultura de Betim ( FUNARBE), atuou como professor de cestaria em outras cidades como Bocaiúva, Itaobim, Santo Antônio do Itambé, onde conheceu sua companheira, Inês Oliveira, também artesã de taboa e outros materiais naturais. A marca Trama Nativa entrega seus trabalhos em outras cidades e estados e Carlos se tornou um caminheiro da arte da cestaria, misturando bambu e outros materiais ao seu processo e espalhando pelo Brasil afora o que nossos ancestrais nos deixaram. Seu empreendimento tem as mãos da família como colaboradora principal, uma vez que passou a arte à sua mãe, tem na equipe sua companheira Inês com suas criações próprias e partilhando o gerenciamento do micro negócio.
Carlos, além de partilhar dos valores da Casa Cultural Dona Antônia, tem sua própria causa e seus meios criativos de militar por ela. Ele, assim como a maioria das almas artistas, entende que o cuidado entre natureza e sociedade está profundamente ligado ao nosso bem estar na terra e à continuidade das belezas e recursos para as gerações que virão. Nosso amigo artesão acredita que é possível e necessário um pacto em que nos desenvolvamos a partir do contato respeitoso e amor ao meio ambiente que nos sustenta e nos acolhe, utilizá-lo sim, porém, a partir de valores culturais e sociais mais elevados, sem esgotar, maltratar ou poluir o que tão generosamente a natureza nos oferta.
E sua forma de dizer isso é repassando o respeito e o conhecimento que tem pela matéria -prima com a qual trabalha, e confeccionando peças simbólicas e expressivas.
O que isso tem a ver com a CCDA? Bem, tudo! Foi através do contato com o projeto social do Salão do Encontro e com a generosidade de Dona Noêmi, fundadora do projeto,que a família se uniu no sonho de um centro de cultura que pudesse contribuir para o bem estar das pessoas e oferecer novas perspectivas da vida e da arte na sua comunidade, como o Salão fez para a família Martins e continua fazendo para muitas pessoas na cidade e fora dela. Além da forte pegada musical, o artesanato também é um integrante importante e atuante na Casa Dona Antônia.
Está plantado lá, desde o início, com as memórias da vida rural de Dona Maria Martins, com as oficinas e confecções de Carlos Martins, com as esculturas de Elvis Henriques, com a participação de outros artesãos e artesãs que deixaram e deixam, suas artes e pegadas na trajetória da Dona Antônia. Desse modo, artes e artistas são apoiades e apoiadores no processo da valorização do trabalho da arte manual, reproduzindo cultura e conhecimento, criando acessos, conexões, público interessado, desenvolvimento pessoal, artístico e empreendedor para quem deseja propagar as tradições de nossa gente, de forma que às vezes se renovem, mas nunca morram. Carlos Martins faz parte do Coletivo Empreender com Arte, um projeto criado pela Casa Dona Antônia e que foi muito bem cuidado pelo nosso saudoso e amado Teco. O Coletivo deu substância à loja Dona Antônia Artes, fortalecendo o artesanato da Casa, capacitando o lado empreendedor de artesãs e artesãos, gerando renda para integrantes e contribuindo na resistência de quem teima em viver de arte em um mundo que tenta matar os sonhos e esquecer os conhecimentos antigos.
O que Carlos Martins e seu trabalho representam é bem mais que sua própria trajetória pessoal e seus próprios sonhos. Ele é um espelho que reflete o que muites de nós buscam: realização, autonomia e arte. Reflete também o que a Casa Cultural Dona Antônia acredita, harmonia social é alcançada quando se está em comunhão com seus sonhos, com a natureza e com a sociedade, contribuindo para que se alcance novos horizontes sem perder as raízes.
A Casa Dona Antônia se orgulha de fazer parte dessa história e convida artesãs e artesãos a fortalecer esses percursos e contribuir com outros tantos que virão. O artesanato historicamente é feito em cooperação com seus afins, é na união que ele resiste e prospera, proporcionando caminhos novos para conhecimentos antigos. Vamos juntes fazer parte dessa proposta de #GerarHarmoniaSocial e mais, #NossoPrópsitoÉCuidarDasPessoas acreditando nelas e nos sonhos que nos coloca para frente andando junto à sabedoria do passado.
Para conhecer mais do trabalho lindo feito por Carlos martins e a Trama Nativa, suas narrativas, fotos e contatos estão disponíveis no insta @trama.nativa e pelo link do facebook :
Se o tema te interessa, aproveite para saber mais nessa conversa sobre a arte da cestaria no programa Rede Cultural do Dona Antônia TV apresentado por Teco Martins, com participação de Carlos Martins, Geraldo Magela e o mestre Francisco Donizeti em setembro de 2021:
A Arte da Cestaria - Caminhos e Historias | Rede Cultural
Acompanhe nosso trabalho, compartilhe e apoie nossos projetos, seja com doações, mão-de-obra e sua presença nas nossas Casas e nas nossas redes, porque como é sabido, #AquiCabeTodoMundo
@donaantoniacultura
Comments